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"Seja parte da mudança que deseja ver no mundo" (Mahatma Gandhi).

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Cinzas e vinho


Tudo começou como cinzas e vinho, ao nos desprender de nós.
Como uma brisa fria um pouco além da conta, mas irresistível.
O avesso do vazio, quando você já não estava mais lá.
Alguns desencontros não deveriam acontecer.

Eu sei o quão estranho fui.
E ser estranho é assim, é não poder acontecer e mesmo assim vir à luz.
Eu vi você, eu vi a mim e me misturei sem medo.
Você estava ali, em um lugar lindo e cheio de perfume, mais a ver com você do que imagina.


Mas esse lugar é mais seu do que qualquer outro
É como se você ainda não conhecesse o quão bonita você é
Desculpe se eu te vi primeiro
Desculpe se eu passei a sua frente quanto a você mesma

Eu sou assim mesmo, costumo olhar para as pessoas e ver nelas o que ainda não sabem que têm.
Será que você se assustou com quanta beleza sua meu olhar refletiu?
Deve ser por isso que você quer ficar sozinha, você quer se acostumar um pouco mais com a perfeição do seu desabrochar.
E eu voo assim, colocando em palavras toda a pressa desmedida que você me causou.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

O olho existe em um estado selvagem


Às vezes deixamos de olhar, mesmo quando tudo parece sob olhos. O olhar perde sua importância, perde um grande poder: o de tocar alguém. Mostrar-se não é revelar-se e isso não implica ser olhado. Ser olhado é outra coisa. É ato generoso, transcendente, é quando alguém esquece um pouco de toda demanda própria e dá amor. É ato que parece fácil, só que não, e, percebe-se bem o quanto vale, quando quem é olhado embaraçosamente se surpreende. A gente se mostra, mostra, e se mostra, e se revira por atenção e, de repente, onde estamos? Estamos assim, como escolhemos, assim, sem o toque. O toque precioso de ser olhado ou de olhar verdadeiramente. Dizem que o olho existe em um estado selvagem. Sim, a selvageria sugere invasão, grande Outro, 1984, ou, até pior, olhar para dizer como deve ser; olhar que aliena. Mas, pensando bem, por tão perdidos que estamos, a selvageria não é só agressão: é também instinto perdido. Explico melhor: selvageria que tem faltado em ato, ato selvagem de olhar simplesmente porque é preciso, com a função de importância a salvar um ser de mesma espécie. Falta o olhar que salva, que dá caminho, que cura, que entende, que oferta. Falta o olhar do impossível.