Mas existir dói sim e, quem diz que não, é por pura defesa,
pois, é fácil notar, haja coragem para sustentar desejos que nos fazem vulneráveis. Haja coragem para dizer sim, a gestos simples e, como se não
bastasse, dizer sim a aquilo que podemos perder entre os dedos é ainda de maior
valentia. Outrora, eu sei que não quero caminho comum, quero caminho que é meu,
pois meu traçado faz de mim especial, mesmo sabendo que minha dor de existir é
prova farta do quanto sou prosaico. Mas eu não quero as mesmas queixas de
todos, quero queixas que me custam especialmente em detrimento do que escolhi,
visto que, escolher me faz ao menos mais leve de toda carga que,
inevitavelmente, acabo levando, ou melhor, sendo impelido por ela. Esquecer o
poder da escolha me tornaria miseravelmente “dessabido” de mim e, ai sim, a dor
poderia ir um pouco embora, mas ficaria uma cegueira insistente por demais.
Cego não dá pra ser, porque até mesmo analista cego tem, muito certamente e
muito bem, de enxergar além. Só não posso terminar sem dizer que – e não
duvidem- depois que comecei a me enxergar um pouco melhor a dor aumentou muito,
como aumentou, como me exige lidar com ela sempre, a todo o custo, a todo o
momento, atravessando toda e qualquer observação. Vigora agora tal limite que
me esparramo de revolta por ser assim transpassado por uma barra de palavras humanoides Só por hoje eu queria não ser um homem, eu queria ser um tigre,
gordo e satisfeito.